08 março 2009

Uma mulher

Através do livro O Paraíso na Outra Esquina, de Vargas Llossa, conheci Flora Tristã e a história de sua vida. Uma mulher fantástica, forte, batalhadora, admirável. Na figura de Flora homenageio as mulher hoje.

Conhecendo Flora Tristan

A história oficial pouco ou nada se ocupa de rebeldias indomáveis, de pensamentos audazes e de mulheres livres, muito menos de alguém que reuna essas três condições. esse o caso dessa extraordinária mulher, cujas idéias lúcidas, propostas de ação e exemplo de vida seguem tendo pleno valor para aqueles/as que aspiram à liberdade e à igualdade.

O relato da vida de Flora Tristán ( 1803 - 1844) está cheio de circunstâncias que parecem ter sido arrancadas das novelas românticas tão ao gosto daquela época. Nasceu em Paris, filha de um aristocrata peruano e de uma plebéia francesa que havia imigrado para a Espanha. Com as guerras napoleônicas e a morte do pai, em 1808, a família de Flora inicia uma etapa de pobreza, mitigada pela ilusão do futuro acesso a fortuna paterna, quando pudessem viajar para a América.

Em 1820, as necessidades se impõem e Flora vai trabalhar como operária de uma oficina de litografia, cujo jovem proprietário - André Chazal - se apaixona por ela. Para fugir da miséria e submetida à pressão materna, Flora casa-se em 1821, gerando dois filhos e uma filha – Aline - que veio a ser mãe do famoso pintor Paul Gauguin. Em 1826, Flora já não suporta aquela união sem amor e convencional, abandonando o lar e iniciando uma dura disputa legal e pessoal, que se prolongará por 12 anos, até que Chazal quase a mata, sendo condenado a 20 anos de trabalhos forçados. Essa vivência será um estímulo para que aflore um pensamento e uma ação que serão referências importantes para o movimento feminista. Flora foi uma figura única, que denunciou com a mais sentida sensibilidade os padecimentos da mulher de seu tempo, planteando reivindicações que continuam sendo atuais.

Em 1833-34, Flora viaja ao Peru para buscar a herança de seu pai, sendo recebida friamente pelos parentes, que lhe concedem somente uma modesta pensão anual. Retorna a Europa reafirmando suas convicções igualitárias radicais, que vem amadurecendo desde 1825, com a leitura de autores como Saint-Simon, Aurora Dupin, Fourier, Considerant e Owen, além de seus contatos diretos com o movimento operário na França e na Inglaterra.

Em 1835, publica seu primeiro folheto, dedicado à situação das mulheres estrangeiras pobres na França; em 1837, sai o segundo, em prol do divórcio; em 1838, são publicados os dois volumes de seu diário de viagem a América, sob o título de Peregrinações de uma Pária. Esta obra dá a Flora grande renome nos meios literários parisienses, reafirmado meses depois com a novela Mephis ou O Proletariado, que a eleva a categoria de rival da célebre George Sand. Ao mesmo tempo, Flora aprofunda seu compromisso ativo com as lutas sociais mais radicais de então. Primeiramente, pela emancipação da mulher e da classe operária, mas também contra a pena de morte, o obscurantismo religioso e a escravidão.

Como que pressentindo a morte próxima, os anos posteriores a 1840 encontram Flora Tristán na plenitude de seu trabalho e pensamento. É então que escreve A União Operária (1843) e A Emancipação da Mulher(inédito até 1846), obras que marcam sua maturidade intelectual e política. Realiza por toda a França a tarefa de organizar essa União Operária, que recorria à experiência inglesa das Trade Unions, ainda que com ênfase internacionalista e socialista radical. Tais ações justificam a apreciação de quem vê em Flora a esquecida e grande precursora da I Internacional, como seu biógrafo peruano L. A. Sánchez, que afirma: "Aquela Associação Internacional dos Trabalhadores era a velha União Operária, ampliada, ecumênica e viril (...) Ninguém lembrou da precurssora na célebre assembléia de Albert Hall. Mas ela, com seu pensamento e exemplo, a esteve presidindo desde longe, desde a eternidade. Talvez, se com alguém se identificava mais seu espírito, era com o de um certo homem de barbas revoltas e verbo ardente, que costumava discordar vigorosamente de Marx: Miguel Bakunin".

Sofia Comuniello

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