09 janeiro 2009

De calor e roletas


O trecho entre a "Faixa de Gaza" (Conselheiro Mafra nos arredores do Mercado) e a Kibelândia foi estonteante. Me senti caminhando por Macondo com sol a pino num domingo de tarde. Aperto o passo e, suado, chego à Kibelândia. Um grato refúgio. O ar refrigerado tem efeito imediato. Três mesas ocupadas por pessoas de fora. Em uma, três franceses conversavam animadamente. Under My Skin na voz de Diana Krall deu um clima intimista ao bar. Mas o melhor de tudo foi ter encontrado um amigo uruguayo que não via há 20 anos. Amigo de adolescência, Roberto Ipar, veio com o pai turistiar por Florianópolis. O pai, Mancha Ipar, é um figuraço. Está com 87 anos e somos amigos desde que eu tinha 17. Resulta que o Mancha era crupiê na roleta que tinha no Club Uruguay. Eu era o único guri brasileiro, di menor, que tinha acesso livre às mesas de roleta. Era tratado como mascote pelos apostadores e funcionários da casa. Vi muita coisas nessas noites de jogo. Gente desesperada perdendo muito dinheiro. Gente feliz por ter acertado um "pleno" e aqueles personagens especiais cada um com seus trejeitos, com formas peculiares de segurar as fichas, de mover-se, de colocá-las no pano numerado e esperar o resultado final de costas para a mesa. Negro el 17 ! Gritava o Mancha. Era meu dia de sorte! Adorava o ambiente esfumaçado, fechado e que só era aberto após uma espiada por um olho mágico para identificar o apostador que chegava. O cassino era clandestino, o que deixava a situação mais interessante e cheia de clima. Pois vejam só, depois de tantos anos encontro essa figura que fez parte da minha vida e megulho de cabeça no pano verde.

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